Nem sempre é dado o devido relevo ao papel da cultura no fortalecimento do tecido social. Ora, a cultura tem de facto uma extraordinária capacidade de ligar pessoas, de as unir em torno de valores, tradições e práticas, de as fazer partilhar a mesma identidade histórico-cultural, de lhes incutir um sentimento de pertença comunitária. Por isso, a coesão social de uma cidade também passa,

e muito, pela ação convergente da cultura no diálogo intracomunitário.

Democratizar o acesso a experiências e bens culturais potencia, portanto, a criação um ambiente social mais justo, inclusivo e harmonioso. Essa é, de resto, a conclusão a que chegámos dez anos decorridos desde o início do Cultura em Expansão – programa que visa, justamente, promover o consumo cultural entre públicos socialmente heterogéneos, oferecendo atividades/eventos gratuitos em territórios descentralizados.

Numa década, a vasta e diversificada programação do Cultura em Expansão possibilitou a criação de novos públicos para a formação, criação e fruição artísticas. Assistimos, deste modo, a um progressivo reforço da relação entre o tecido social e diferentes estruturas e projetos culturais da cidade do Porto.

Relação, essa, que é sustentada por uma vontade de relacionamento e aprendizagem mútuos, por um lado, e pela criatividade e saber-fazer dos intervenientes no programa, por outro.

Por aqui se percebe o que representa o Cultura em Expansão para a promoção da inclusão social, o respeito pela diversidade e o exercício da cidadania ativa na cidade do Porto. Tanto assim que, ao longo destes dez anos, o programa aumentou progressivamente as suas propostas culturais em diferentes áreas e com projetos de várias escalas, além de ter disseminado as suas atividades/eventos por um número crescente de espaços da cidade.

De referir a propósito que, a partir de 2019, o programa passou a ser desenvolvido em estreita colaboração com as estruturas mediadoras presentes nos quatro territórios nucleares do Cultura em Expansão – Sonoscopia, na Bouça; Visões Úteis, em Campanhã; Confederação, em Miragaia; e Teatro do Frio, na Pasteleira –, bem como em articulação pontual com outras estruturas artísticas e associativas da cidade, no âmbito da Programação Satélite.

Em 2024, há um acentuar dos princípios matriciais do Cultura em Expansão. Desde logo, devido à maior preponderância do trabalho com a comunidade na programação deste ano, refletida nos projetos desenvolvidos em residência ou nos que são especialmente comissariados para esta edição. Em simultâneo, o Cultura em Expansão lança um novo olhar sobre as coletividades existentes na cidade e as suas tradições.

Também se verifica, nesta edição de 2024, o crescimento de projetos que tiveram a sua génese no Cultura em Expansão e que se consolidaram na agenda cultural da cidade. Trata-se de projetos que continuamos a apoiar com interesse, como o Grupo de Teatro Comunitário do Bonfim, e de projetos que ganham no Cultura em Expansão uma nova dimensão, como o Grupo Operário do Ruído.

Devo destacar ainda a criação de sinergias entre o Cultura em Expansão e outras estruturas artísticas e instituições da cidade do Porto, para além das quatro parceiras do programa. A edição deste ano envolve igualmente estruturas municipais como a Fonoteca Municipal do Porto e estruturas de cariz social como o Espaço Raiz, entre outras instituições.

Naturalmente que as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril vão contaminar a programação deste Cultura em Expansão e servir de gatilho a projetos inspirados nos princípios da Revolução dos Cravos, como a liberdade, diversidade, paz e inclusão. Pela sua natureza sociocultural, o programa é, aliás, tributário do acontecimento fundador da democracia moderna e do Estado social português, o que eleva as expetativas em relação à edição 2024 do Cultura em Expansão.

Rui Moreira

Presidente da Câmara Municipal do Porto